As Tatuagens do Príncipe
- Samuel da Rosa Rodrigues
- 27 de abr. de 2024
- 4 min de leitura
Era uma vez, em um reino muito antigo, uma Princesa que estava procurando um pretendente para se casar com ela e tornar-se Príncipe. O Rei, seu pai, queria alguém que fosse capaz de ser um bom homem para sua filha e um ótimo Rei para o reino e o seu povo. E assim começou a seleção dos pretendentes.
Na floresta ao redor desse reino vivia uma bruxa. Seu maior talento era fazer tatuagens mágicas. As tatuagens davam ao seu dono as habilidades do que quer que tenha sido desenhado. Sabendo da seleção, a maioria dos candidatos a Príncipe passavam na bruxa e faziam uma tatuagem antes de se apresentarem para o Rei e a Princesa.
O primeiro candidato pediu à bruxa a tatuagem de um leão em suas costas, para que ele tivesse a ferocidade do rei das selvas. Quando a Princesa o conheceu, ficou encantada por seu porte elegante, enquanto seu pai gostou da sua presença nobre. Porém, na maior parte do tempo, ele era feroz demais com todos os empregados do castelo, e assim não serviria para ser um rei justo e querido por todos.
O segundo candidato tatuou uma águia, para que ele pudesse observar o reino do alto e não perder nenhum detalhe, do castelo até o menor vilarejo. O Rei gostou da sua preocupação com todos e a Princesa gostou da sua leveza, mas o problema é que todos os animais que voam são livres demais para ficarem trancados em um lugar só. A águia precisava ganhar os céus e não ficar parada em um castelo, e um possível rei não poderia desejar a liberdade e guardar essa angústia em seu coração.
O terceiro candidato tatuou uma tartaruga, para que ele tivesse a sabedoria acumulada de muitos anos de vida. O Rei gostou dos seus conselhos e a Princesa gostou da sua calma e sobriedade, mas ele tornou-se um candidato lento, que apesar da boa vontade, não tinha a rapidez necessária para comandar o reino.
Nessa mesma época, um jovem camponês apareceu no castelo pedindo trabalho. Ele vinha de uma família de muitos irmãos e queria ajudar na renda de casa trabalhando para o Rei. Seu pedido parecia sincero e o Rei o contratou.
O jovem camponês tinha um olho incrível para raízes podres e árvores que já não dariam mais frutos, cortando elas antes que pudessem estragar outras plantas.
Além disso, sabia exatamente o peso das frutas quando estavam maduras: nunca tirava uma fruta do pé cedo demais sem respeitar o tempo dela de crescer e colhia as maduras na hora certa, para que elas pudessem seguir o seu caminho.
O camponês também era um ótimo negociador: sabia quando os compradores estavam oferecendo menos do que as frutas que ele estava vendendo e também não passava a perna em ninguém.
Além de ser um ótimo trabalhador, o camponês era uma ótima pessoa para se conviver. Estava sempre sorrindo e não reclamava nunca. Quando algo o incomodava ele respirava, pensava um pouco e tomava uma decisão para resolver o problema. Tratava a todos com o mesmo respeito, do cuidador de porcos ao ministro da igreja. Sabia a hora certa de dar sua opinião e a hora certa de ouvir. E nunca deixava que algo injusto acontecesse com ninguém.
Com o tempo, o camponês integrou-se à família real, até que o Rei lhe disse um dia que era uma pena ele nunca ter se candidatado ao cargo de Príncipe. No dia seguinte, o camponês chegou para trabalhar com uma bela roupa de linho, com detalhes dourados e revelou sua real intenção. Ele contou que sim, queria tornar-se Príncipe do reino e viver com a Princesa. Foi então que ele arregaçou as mangas e mostrou as três tatuagens que fez com a bruxa antes de se candidatar: uma foice, um relógio e uma balança.
A Princesa gostou da atitude. Já tinha se encantado pelo camponês e ficou feliz por ele ser um candidato, mas pediu explicações das tatuagens. Por que ele não havia feito um animal feroz, majestoso ou sábio, e sim objetos do dia a dia?
O camponês pediu desculpas pela sua farsa e contou que queria mostrar do que era capaz antes de se candidatar ao cargo. Assim, ele seria julgado pelo que ele fazia, e não pelas suas promessas do que faria. Agora que o Rei e a Princesa já sabiam das suas habilidades e intenções, ele podia mostrar suas tatuagens.
O camponês contou que tatuou uma foice para entender como lidar com os sentimentos e cortar as angústias antes que elas criassem raízes no seu peito e o tornassem amargo.
Fez a tatuagem do relógio para sempre saber a hora certa de falar e ouvir e nunca agir por impulso, correndo o risco de tomar uma decisão errada.
E tatuou a balança para sentir o peso da responsabilidade que estava assumindo ao tornar-se o Príncipe e futuro Rei. Nos dias que viveu no castelo, porém, percebeu que o peso da responsabilidade de ser o amor da Princesa era muito maior do que o peso de ser Rei, mas assegurou que o seu amor era sincero, e ela sabia que era verdade.
A Princesa pediu para o Rei cancelar a seleção de pretendentes, pois sentia que haviam achado o homem ideal, justo e honrado, que iria cuidar do reino e das pessoas que viviam nele. O Rei acatou o pedido da Princesa, pois percebeu que aquele homem iria cuidar bem da sua filha e do reino da mesma maneira.
O casamento foi comemorado com uma grande festa e a bruxa foi convidada de honra, sentando ao lado da família real como reconhecimento por sua sabedoria e habilidades. Com o tempo, o Príncipe e a Princesa tornaram-se Rei e Rainha e tiveram um reinado justo, leve e pacífico. E todos viveram felizes para sempre.

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