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Noite de RPG

  • Foto do escritor: Samuel da Rosa Rodrigues
    Samuel da Rosa Rodrigues
  • 1 de abr. de 2024
  • 10 min de leitura

Entramos em casa pisando pé por pé. Eu não queria acordar as crianças. Dei a mão para ela no último lance de degraus. Gostava de ser cavalheiro. Ok, eu ia trair minha mulher em alguns instantes, mas isso não me liberava de ser cavalheiro.

Entramos no quarto. O relógio do meu lado da cama anunciava que era dez horas, já noite. O perfume dela tomou o ambiente mais rápido do que imaginei. Fiz um esforço na hora de falar para lembrar o que tinha que dizer:

— Esse é o quarto que eu e minha mulher dormimos. E onde transamos. Como você pediu.

— Ótimo. É bem aqui que eu quero.

Ela tirou a caneta que prendia o coque e sacudiu os cabelos. Ah, o perfume! Se ela estivesse de óculos, seria uma cena de filme pornô, da secretária que vira mulherão quando solta os cabelos e joga os óculos longe. Mas ela não usava óculos. Era minha mulher que usava óculos.

Ela colocou a caneta e o celular que trazia no bolso traseiro do jeans na cômoda, no lado em que minha mulher dormia. “Ordinária”, pensei, “ela sabe o que faz”. Ela mexeu no cabelo como uma mulher que quer ser notada e veio em minha direção. Falou com uma voz doce que eu sabia que era de mentira.

— Vamos começar?

— V-vamos... vamos, sim. Só espera eu…

Ela colocou a mão no meio das minhas pernas.

— E-eu... eu não sei se gosto disso!

— Eu não lembro de ter te dado permissão para falar.

Ela continuou com a mão no mesmo lugar.

— Minha mulher não costuma fazer isso — respondi, encolhido.

— Não sou sua mulher... esqueceu? — Ela me empurrou até eu sentar na beirada da cama. — E vamos parar de falar nela esta noite, por favor?

— É que estamos no quarto dela, tem o perfume dela. — Mentira, o único aroma era o perfume que saía dos seus cabelos. — As crianças sempre falam “o quarto da mamãe”, tenho zero autoridade sobre este quarto, eu…

Ela me “permitiu” sentar e respirar, mas colocou o dedo na minha boca para eu não falar.

— Hoje à noite, somos só nós dois.

Ela colocou a mão na minha nuca, puxou meu cabelo e inclinou minha cabeça para trás. A danada tinha força! Senti a ponta das suas unhas afiadas roçando no meu couro cabeludo. Descobri que meu corpo arrepiava em vários lugares que eu nem sabia serem capazes de se arrepiar. Ela se inclinou e cheirou meu pescoço, do ombro para cima. Quando passou pela orelha direita, perdeu alguns segundos ali. Eu não sabia que minha orelha era tão sensível.

Ela sentiu minhas pernas tremerem e sentou de frente para mim, com as pernas abertas sobre as minhas coxas. Com a mesma força que me puxou, me empurrou para o meio da cama. Deitei no colchão e vi a luminária pendurada no teto. Eu nunca olhava para ela — raramente ficava nesse ângulo na cama —, e me surpreendi. Como minha mulher poderia gostar daquilo? Estava velha e empoeirada! 

Minha nova amiga pareceu adivinhar os meus pensamentos.

— Pensando nela de novo?

— É... — hesitei. — … Sim. É que essa luminária…

— Esquece a luminária. Vamos fazer um jogo.

— Jogo? — Levantei o pescoço para olhar ela. — Adoro jogos. — Ela sorriu maliciosamente. — Hum... Que tipo de jogo?

Ela notou minha preocupação e sorriu com os olhos. Sabe aquele sorriso que alguém dá e você sabe que coisa boa não vem por aí?

— Jogo de concentração. Você vai ter que ficar concentrado, falando sobre o assunto que eu escolher, enquanto eu…

— Enquanto você o quê?

Ela engatinhou na cama até encostar o rosto dela no meu e cochichou no meu ouvido:

— Enquanto eu desconcentro você…

Colocou novamente a mão no meio das minhas pernas, mais gentilmente desta vez. Céus.

Esperei, obediente, pelas próximas ordens, ainda olhando para a luminária no teto. Observando bem, ela tinha certa beleza, um charme... Mas precisava de uma polida. De repente, eu só tinha que a enxergar de outra maneira. De outro ângulo. Ia comentar isso com a minha mulher.

Deitado, eu a sentia passeando pelo quarto. Não me atrevi a olhar para descobrir o que ela aprontava, e não ouvia nada. A danada era silenciosa como um gato. A única coisa que traía sua posição ao meu redor era o toc toc quase mudo do seu salto batendo no chão. Até que o toc toc parou.

Esperei alguns segundos até algo acontecer. Nada. E não enxerguei mais ela. Sabia que estava no quarto, porque o perfume ainda estava no ambiente, mas eu não conseguia notar onde ela estava.

De repente, PÁ!. Algo bateu forte entre as minhas pernas, quase me acertando. Na curiosidade, me atrevi a olhar para frente. Ela estava parada na beira da cama, me olhando, com uma lingerie preta e um chicote na mão. Demorei alguns segundos para entender a cena, mas, quando entendi, quase acordei toda a casa.

— Ei! Essa lingerie é da minha mulher!

— Quieto! — PÁ!, novamente, um pouco mais acima. — Quer acordar as crianças?

— Não! — Abaixei a voz. — Não, não. Mas isso é da minha mulher! Eu não deixei você pegar! Eu não vi você pegar!

— Sério? — A poker face dela era ótima. — Ela não costuma usar, né? Tive que tirar a etiqueta.

— Ela disse que era para usar numa ocasião especial, mas essa ocasião especial nunca aconteceu... Sugeri para ela usar até na visita do Papa ao Brasil, mas não rolou.

— Oi?

— Visita do Papa, ocasião especial... — Eu quis sumir na cama. — Desculpa, faço piadas idiotas quando fico nervoso.

— Pois não fique. — Ela subiu na cama novamente e começou a colocar a minha camiseta para cima com o chicote. — Se ela queria usar numa ocasião especial, façamos de hoje uma ocasião especial. Não?

— Posso falar?

— Só se concordar comigo.

Ela bateu com o chicote em mim. Eu odiava admitir que aquilo me excitava.

— Eu quero jogar. Vamos jogar?

— Vamos. Já estamos atrasados. — Ela notou o volume entre minhas pernas. — Você já está pronto faz horas, né, queridão?

— Pois é, então…

— Não tô falando com você.

Ela me fuzilou com os olhos e tocou no meio das minhas pernas com o chicote. Silenciei-me de novo.

Com delicadeza, ela saiu da cama, ligou a luminária e desligou a luz do quarto. Éramos três agora: eu, ela e a luminária da minha mulher. Praticamente um ménage. A luz era forte o bastante para contornar sua silhueta na escuridão, e, meu amigo, que silhueta. Aquela expressão do copo meio vazio ou meio cheio foi feita para descrever este momento: seus seios preenchiam a meia taça na medida, sem sobrar nem faltar. Lutei contra uma força incontrolável de falar isso em voz alta. Eu não tinha permissão para falar, afinal.

E o bumbum... Confesso que achei o bumbum parecido com o da minha mulher. Mas não sei, acho que a cena toda, o perigo, tudo deixou a derrière dela muito mais bonita do que ela era naquele jeans justo. Anotei mentalmente para olhar a bunda da minha mulher com atenção depois.

Esqueci tudo quando ela começou a tirar minhas calças.

Os meus tênis voaram, o meu cinto também, e ela teve a consideração de tirar as minhas meias (querida!). Porém, a hora de tirar minhas calças foi uma tortura psicológica. Na contraluz, eu conseguia enxergar um sorriso quase sádico dela, puxando meu zíper devagarzinho. Ela fez menção de pegar o chicote novamente e notou que quase pulei da cama. Riu, sarcástica.

— Então, vamos jogar... — Ela soltou o botão do meu jeans e começou a puxar minhas calças. — Fale da sua mulher.

— Falar dela?! Ela vai ser o tópico?

PÁ!. O chicote passou zunindo pela minha orelha.

Ok. Falar da minha mulher. A minha mulher... é linda. Ela é tudo de bom. Tem um sorriso lindo. Os olhos dela sorriem. O cabelo dela é macio. As suas bochechas são rosadas. Ela…

Ela parou. Minhas calças estavam no joelho.

— Impressão minha ou você só olha a sua mulher do pescoço pra cima?

— Como assim?

“Ai, porque o sorriso, os olhos, o cabelo, as bochechas…”, deusdocéu... ela não tem peito, bunda, não? Não me surpreende que eu esteja aqui!

Ela não estava errada. Pela minha descrição, minha mulher não era muito diferente do Sol dos Teletubbies ou do Zordon dos Power Rangers: só cabeça.

— Eu vou baixar o nível. — Ela colocou a mão nas minhas coxas. — E quero que você baixe também.

Com um puxão, minhas calças foram ao chão. 

— Recomeçando?

Comecei a falar sem parar.

— Eu AMO a bunda da minha mulher. Talvez ela não saiba disso, pois prefere que eu não fique falando esse tipo de coisa, só na cama, mas daí quando a gente deita eu falo, mas ela dorme logo, ou eu durmo logo, e quando a gente fica acordado ou a gente conversa ou a gente transa, daí quando a gente vai transar ela diz que eu não tomei banho, e quando eu tomei banho ela não tomou banho, e quando os dois tomaram banho a gente não pode transar, porque, afinal, nós dois tomamos banho e a gente vai ficar suado, então, pra que ter tomado banho, e…

Ela mordeu a minha coxa.

— AI! Isso doeu! — E me excitou — Doeu mesmo!

— Foco. Eu deixei você falar, use bem esse direito.

— Tá. Enfim, eu gosto da bunda da minha mulher. E... e do vãozinho que ela faz quando acaba o bumbum e começam as costas, sabe? Gosto de pegar ela por ali, com força. — Ela começou a beijar a parte de dentro da minha coxa. — Eu adoro abraçar ela por trás, segurar ela forte pela cintura, mas gosto de abraçar ela de frente também, com força. Gosto de sentir os seios dela. — Ela colocou a mão por dentro da minha cueca. — Adoro ela sem sutiã. Os seios dela são o máximo.

Ela me deixou nu da cintura para baixo.

— Você aprendeu a jogar. Para a próxima fase.

Ela notou que eu tremia e tirou minha camiseta. Lá estava eu, nu, com outra mulher na minha cama. Eu, ela e a luminária da minha mulher.

Senti a renda da lingerie roçar nas minhas coxas. Os seios dela estavam na altura dos meus joelhos. Eu queria que tivesse um espelho no teto, não uma luminária estúpida, para ver o que estava acontecendo, mas eu não estava em um motel, nem no início de um relacionamento. Aliás, por que a gente deixa de ir ao motel depois do início do relacionamento? Tenho saudades.

“Se os seios dela estão perto dos meus joelhos...”, pensei, “seu rosto está...”

— Agora eu vou só ouvir. — Ela passou a língua nos lábios. — Fale da sua mulher no sexo.

Prova oral sobre sexo durante o sexo oral.

— A minha mulher... gosta de sexo. — Ela me deu uma mordidinha de leve, mas eu não tinha culpa, era o que dava pra pensar! — Ela... Ela gosta de transar. Nós não variamos muito, mas o que a gente faz, a gente faz bem.

Sua língua curiosa parou. Entendi o recado.

— Ela gosta de me chupar. E gosta quando eu seguro o cabelo dela com ela me chupando.

Ela deu um gemido gostoso. Segurei o cabelo dela também. Ela gostou.

— Mas o que eu gosto mesmo é de comer ela. Gosto quando eu deito e ela vem por cima de mim, se apoia na cama e fica me provocando, me colocando pra dentro aos pouquinhos, até ela não aguentar mais e querer cavalgar em cima de mim com força.

Ela levantou, ficou de pé na cama, tirou a calcinha e sentou em mim.

— Continua. — Bateu com o chicote na minha perna. — Continua!

— Então eu pego ela forte na cintura e faço ela me sentir bem fundo, até ela não se aguentar mais e perder a pose de mandona. — Ela gemeu e respirou fundo no meu colo. — Porque eu sei, eu sei que ela é só pose, ela é um doce por dentro! Eu seguro ela forte, eu finjo que mando, ela finge que acredita, e a gente fica assim, nesse jogo, até mudar de posição.

Ela tirou a parte de cima da lingerie e jogou no chão. Ficou com os seios livres e o corpo finalmente nu.

— Então, nessa hora, eu viro o jogo. Eu seguro forte o cabelo dela, o cabelo que ela prende com tanto carinho durante o dia, seguro forte e beijo os seios dela, porque eu sei que ela gosta. — Aproximei a cintura dela perto de mim com a mão livre e beijei o seu corpo todo. — E depois eu viro ela, pra ficar por cima.

Nossos corpos se inverteram na cama. Ela tomou ar e perguntou:

— E por que você gosta de ficar por cima?

— Pra ficar bem perto do rosto dela quando ela gozar. — Mordi o pescoço dela com força. — A essa altura, ela já tá quase gozando, quase sem controle, enfiando as unhas nas minhas costas, com força!

Ela já não conseguia falar mais nada para mim. O jogo já tinha acabado. Eu estava dentro dela e ela estava completamente na minha.

Fizemos com o máximo de vontade possível e o mínimo de barulho para não acordar as crianças. Os últimos instantes pareceram durar uma eternidade. Seguimos no movimento dos corpos suados até os músculos enrijecidos se relaxarem. Enfim, gozamos, ela e depois eu.

Eu só conseguia gozar junto da minha mulher.

Ficamos alguns segundos ali, um corpo sobre o outro, sem pensar muito. Depois de alguns instantes, nos olhamos, rimos um pouco, e eu saí de cima dela. Ficamos alguns minutos em silêncio, recuperando a respiração. Fui ao banheiro tomar um banho rápido.

Quando voltei para a cama, minha mulher já estava deitada no seu lado da cama, com o pijama rosa com coraçõezinhos pretos que ela amava. Eu achava lindo, mas não falava para ela. Devia começar a falar mais isso.

Coloquei uma camiseta e deitei ao seu lado, rindo satisfeito. Ela já estava quase dormindo. Abracei ela por trás — o vãozinho estava lá — e cochichei:

— E aí?

— Eu tô gostando muito dessas noites de interpretação de papéis, você sabe…

— Mas…

Ela hesitou.

— Mas você podia mudar o nome do compromisso na nossa agenda compartilhada, né? Dois colegas de trabalho tentaram puxar assunto comigo porque viram no meu computador o aviso que hoje era “Noite de RPG”! Eu me casei pra aguentar um nerd por vez.

Abafamos as risadas nos travesseiros.

— Cretina. — Fiz cócegas nela. — Vou mudar, pode deixar. Amor, você pega as crianças amanhã?

— Não, você pega. Amanhã é quinta, tenho que fazer a unha e tem uma menina nova no salão que demora um tempão, não sei se vou conseguir chegar a tempo de elas saírem, tô pensando até em trocar de salão.

— Certo. Eu pego, pode deixar. Boa noite.

— Boa noite.

Encaixei ela no meu abraço e ri sozinho. Quinta-feira era o dia dela de pegar as crianças, mas tudo bem. Aquele era um papel que eu interpretava com prazer. Safada


Foto de dados de diversos tamanhos em cima de um mapa de RPG. O jogo de interpretação de papéis é tema do conto erótico que está relacionado.

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